O Caderno Lilás de Karim Blair

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013


Eram 9h da manhã e andei rente aos muros, na sombra. Quatro quarteirões e o corredor depois da entrada pela primeira porta. Umidade relativa do ar: 65%. Pressão atmosférica: 1020 milibares. Ao fundo: nascer do sol com ônibus. Uns livros e desfocados. E uma improvável chuva depois da janela. Identidades: 1) crisântemos e rosas na escrivaninha. A escrivaninha: meu lugar preferido. Nem sempre o mais assíduo, apenas o preferido. 2) São Paulo: seus vitrais de mercado central e suas ruas que me atravessam, fragmentadas, diariamente. Peguei os papéis e subi a rampa até o primeiro andar. Mas tive muito medo. Desnecessário e inócuo. Faz dois anos, eu ia dizer, mas não tem mais importância. Dentre as várias identidades da cidade, sou a mais exposta. A que não se extingue nunca. Por isso, este sorriso e a tatuagem. A lanterna, a enfermaria, o pentagrama. Os pequenos feitiços. As coisas ilícitas e os duvidosos ganhos. O inferno submerso na minha desconfiança. Sem atenuantes. Desci a rampa até o térreo. Transitória.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


Swok arranha a janela no meio de julho. Estou presa ao silêncio insólito da fumaça e da rua enevoada. Chocolates recheados e uma dúzia de laranjas doces. Relógios que não se movem, mas quando o fazem tocam peças de música. Milenium. Bilhetes. (Lizbeth também come pizzas congeladas em Estocolmo). Um ramo de avelãs licorosas e diabólicas biografias com intenções ficcionais. Matilhas refletem seus dentes afiados no canto do quarto. Um rio risca minha veia e vem o sussurro: um dia será abril de novo, um abril diáfano de noites ladrilhadas em azul. Um mercadejar de sedas, nozes-moscadas e narguilés. Isso se prevê ao olhar do outro lado da rua, a casa descascada e cinzenta. Se eu fosse sincera, diria que tenho saudade. Mas, não sou. Sou dissimulada, leviana e passageira.